quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A origem do meu feminismo, ou a origem da consciência do meu feminismo?!


Dizer sobre a origem do meu feminismo é difícil. Não sei datar e especificar quando me tornei feminista, pois foi um lento processo de incomodo com quase tudo. Creio que foi junto com a minha formação como ser pensante. Dizer como me percebi feminista é bem mais fácil. Este ano, tive uma aula na faculdade sobre o assunto, com uma professora feminista, e naquele momento, tive a oportunidade de entender que aquilo que eu sentia, que eu pensava, que eu fazia era SER FEMINISTA. SIM, EU ERA FEMINISTA! SEMPRE FUI, E AGORA ENTENDIA QUEM EU ERA, O QUE EU SOU, E SEMPRE FUI.

Comecei a pesquisar o assunto, e encontrei o “Mundo dos blogs feministas”, passava noites em claro lendo, pensando, escrevendo... Com toda essa reflexão, percebi que minha inquietação não é apenas com a desigualdade de oportunidades entre os gêneros, e sim com a desigualdade arbitrariamente imposta diante de qualquer diferença: raças diferentes, distintas classes sociais, orientações sexuais, diferenças nos corpos (as chamadas deficiências ou as doenças), ou qualquer desigualdade de oportunidades que tentam se justificar, mas que apenas reproduzem um discurso de dominação de “um-referência” sob o “outro-diferente”.

Convivo diariamente com o preconceito contra os deficientes (minha mãe é surda); em minha família, dizem que chego a ser chata contra o racismo; sempre tive uma quedinha pelo socialismo, apesar de não ter muita coragem de me assumir, por nunca ter me detido aprofundadamente em estudos sobre o assunto... Sempre considerei a religião, da forma que eu tive a oportunidade de conhecer, e quando levada ao extremo, uma forma de formatar e não considerar as diferenças individuais. Por esses e inúmeros outros motivos, fui me tornando sensível a essas desigualdades de oportunidades perversas que mantém uma lógica muito confortável para quem é a referência: homens, brancos, social e financeiramente privilegiados, heterossexuais, com corpos “perfeitos” (tanto estética quanto estruturalmente) e saúde preservada.

Pergunto-me diariamente, se não teríamos um mundo muito melhor, se todas as pessoas começassem a se questionar quanto ao porquê. PORQUÊ AGIMOS DESSA OU DAQUELA FORMA... penso que assim, essas desigualdades de oportunidades seriam escancaradas, e seria uma forma de mudar a situação que, na minha opinião, é ridícula há muito tempo.
Mas nenhum desses incômodos, nenhum desses pensamentos e discursos de igualdade me mobilizaram a ponto de me fazer agir efetivamente além das ações do dia-a-dia.

O feminismo fez isso comigo. O feminismo me fez sair da minha zona de conforto, me fez pesquisar, ler, pensar, discutir, e decidir que mesmo com possíveis represálias, iria divulgar minha opinião e meus pensamentos aqui no blog. Além disso, comecei a fazer uma pesquisa sobre o assunto com a professora que me ajudou a denominar meus sentimentos. Pensando bem, o feminismo sempre fez isso comigo, creio que por ser a discriminação que sinto na pele. Por perceber nos discursos que o machismo manda em nossa sociedade, e que isso me atinge de diversas formas... Me atinge, e atinge todas as pessoas, mesmo sem que elas percebam. Sempre discuti arduamente o assunto quando surgia em uma mesa de bar, tentando desvendar as ideologias escondidas em situações naturalizadas com uma facilidade incrível... Apenas não sabia, ainda, que isso era feminismo.

Diante desses pensamentos, minha vida acabou mudando de rumo, e estou muito feliz com isso. É muito bom encontrar o que nos mobiliza, o sentimento de completude é sensacional.
Acredito que temos que pensar sobre questões que não nos ensinaram a pensar. Questionar “regras sociais” e consensos que são aceitos e reproduzidos sem sequer termos consciência disso. Somos seres pensantes, e devemos pensar nos nossos atos. Uma amiga diz não acreditar na justiça. Eu acredito. Eu acredito ser possível que tenhamos oportunidades iguais para as pessoas. Fácil, eu sei que não é. Mas é possível. Essa é uma utopia que sigo e espero não ser a única...