quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

PALAVRAS QUE SOU

Acabei de começar meu novo blog, o "Palavras que sou". 

Quando tive a ideia de fazê-lo, vim ler o "Mulheres de Atenas". A última vez que estive aqui foi em Abril desse ano, quando 'borbulhei' com aquela história da Panicat que teve o cabelo raspado (a última postagem do blog). Olhando as estatísticas de visualizações desse blog, me espantei com o número de visitas que o blogger registrou, são 11789 no total, sendo 836 só no mês passado. Confesso que chego a duvidar da veracidade dessa informação. Mas, se for mesmo verdade, fico muito feliz com tamanha populariadade inesperada! 

Não tinha pensado em escrever esse post, mas diante das 836 visitas registradas no mês passado pelo site, achei que seria uma boa ideia escrever aqui convidando os visitantes desse blog, para visitarem o novo. 

Resolvi começar um novo, e não continuar esse aqui, por já terem se passado três anos, e por eu estar querendo mudar algumas coisas no estilo geral do blog (trazer outros assuntos, comentar sobre outras coisas que me tocam) enfim, fazer um outro blog.

Espero que visitem meus novos textos, e que comentem também, se eu soubesse que tinha tanta gente passando por aqui, não teria deixado esse blog tão abandonado!! 

Nos vemos no: 

http://www.palavrasquesou.blogspot.com.br/



terça-feira, 24 de abril de 2012

Pânico do Pânico

Depois de ver a repercussão que deu o programa Pânico na Band de ontem, vi que é um ótimo momento pra colocar esse programa na roda de debates, pra que a gente (mesmo quem não assiste ao programa), possa olhar pra ele com um outro olhar. Vale dizer que eu não assisto ao programa, vi algumas coisas na TV, por estar em algum lugar em que estivesse passando, e olhei algumas coisas aqui na internet. Não sou uma profunda conhecedora do programa e seus personagens, e o motivo ficará claro ao longo do post. (Se você acompanhava o blog, esse post é uma adaptação de um post de 2 anos atrás, com o acontecimento da última semana) No último domingo (22/04/2012), foi transmitido, ao vivo, a cena de uma das panicats tendo seu cabelo raspado. O único argumento que consegui identificar na fala deles, foi o de " mostrar que ela tem o espírito do programa". O video, como os outros que comentarei no post, é bem pesado, não consigo assisti-lo sem uma dor muito forte no coração, por ver o que é 'aceito' que aconteca com as mulheres na TV Brasileira, e ainda por cima com o argumento da piada. Essa não foi uma violência apenas discursiva (como está em pauta por algumas piadas de outros comediantes da atualidade), foi uma violência física (mias uma que esse programa transmite na TV Brasileira). O fato dispertou diversas opiniões, e acho interessante a gente discutir cada uma essas opiniões, para olhar com calma de onde vem cada uma das opiniões, e onde elas podem nos levar. Procurei outros vídeos no youtube para que eu tenha mais exemplos para basear a discussão, e para colocar alguns vídeos aqui no post, como exemplo do que eu estou querendo dizer. Sinceramente... Assistir a esses videos não foi uma boa ideia. Estou enjoada, com raiva, coração disparado, e com aquela sensação de falta de esperança na humanidade que eu DETESTO sentir. Desde muito nova, quando voltava da escola, meu pai, ou o motorista da van iam ouvindo aquele programa do rádio “Pânico”. Era um programa de entrevistas, e não me lembro de ter ficado incomodada com ele. Esse programa foi para a TV, com o nome “Pânico na TV”, e eu não costumava assisti-lo... Minha revolta começou quando aquele quadro “Vô, Num vô” começou a ser exibido, e virar mania nacional. Sim, infelizmente, vivemos num país em que esse tipo de coisa vira mania nacional. Dois caras saiam pelas praias do Brasil, abordavam mulheres e colavam adesivos nos quais estavam escritos “Vô, Num vô e Camarão” no corpo delas. Sendo que essas palavras demonstravam se eles “comeriam” ou não a mulher, ou se fariam como com camarão “tirar a cabeça e comer o resto”. Depois de colarem o adesivo, enterrar uma plaquinha com o que a mulher merecia (como que demarcando território), eles as pediam para que elas lhes “dessem a pata”, para dar uma voltinha, e o telespectador ter uma visão mais completa do corpo da mulher. É chover no molhado dizer que estão objetivando a mulher??? Que essa atitude humilha a mulher, e não deveria acontecer? O pior é que eu não sei... A maioria das pessoas com as quais conversava na época, achava isso engraçado. Ria e continuam rindo disso, e não percebe como eu percebo. Fazendo isso, eles colocam a mulher como um produto a ser consumido ou não, dependendo da vontade do homem. PERAÍ. Para o sexo acontecer, precisa-se de duas pessoas, e teoricamente, as duas teriam que ter se escolhido mutuamente, escolhido a forma, e o lugar em comum acordo. Não é isso que esse quadro demonstra. Na época, lembro que comecei a pensar como eu agiria se eu estivesse na praia e visse aquela equipe de TV. Aterrorizava-me ainda mais o fato de eles bradarem aos sete ventos, que a justiça brasileira não os impediria a nada. (Só um exemplo desse quadro, mas infelizmente, acho que se você vive no Brasil, já o viu pelo menos uma vez... http://www.youtube.com/watch?v=XMHWeyejg84&feature=related) Eles conseguiram mulheres fixas para humilhar e mostrar como objetos (alguns exemplos que me lembro, são as PANICATS, a Sabrina Sato, e a Samambaia – interessante que quando a gente quer dizer que uma pessoa é burra, fazemos alusão às plantas...). Infelizmente vi algumas cenas que muito me entristeceram. Vou colocar alguns links aqui, e fazer uma breve descrição do que aconteceu nesses quadros. (Assista apenas se você tiver estomago muito forte.) - Teste de calcinha em guindaste: Nessa ocasião, eles decidiram “testar a qualidade da calcinha” usada por elas, levantando-as pela calcinha com um guindaste. É claro que o objetivo não era esse. O objetivo, era ver mulheres ditas 'gostosas' sendo levantadas pela calcinha por um guindaste, ate a calcinha arrebentar. (Imagino como deve doer você ter todo o peso do seu corpo levantado pela calcinha...) *Especialmente esse vídeo é muito pesado, foi muito difícil eu assisti-lo até o fim pra poder postar, e fiquei em duvida se o colocaria ou não aqui o link para ele. http://www.youtube.com/watch?v=VIUmQpygFPg - Escorpião picando a bunda da Sabrina: Ela se assentou em uma pedra, e deixou que um escorpião a picasse. Caiu no chão chorando, e a voz que narrava a cena ao fundo fazia piada daquela situação e da dor que ela sentia. http://www.youtube.com/watch?v=lfuXjeLoqoU&feature=related - Em uma ocasião que muito me espantou, elas foram colocadas em um lugar com cães famintos e carne crua costurada nos biquínis. Foram “jogadas aos cães”, em uma referência àquelas situações nas quais os gladiadores eram jogados aos leões para divertir aos cidadãos da Roma Antiga. Esse vídeo mostra só a preparação do “espetáculo”. Se tiverem interesse em ver o final, basta procurar no youtube. http://www.youtube.com/watch?v=XETLo_zrheM Não poucas vezes as vi chorando, dizendo que não queriam fazer, além de uma referência à unidade de atendimento móvel para a segurança das mulheres, com conseguinte focalização da câmera em um caminhão de brinquedo... Quando elas começam a demonstrar que não querem fazer, um dos integrantes da equipe, que é alvo constante de humilhação pelos outros participantes do programa, grita com elas e as xinga muito, ameaçando que vai colocar outra no lugar delas, e dizendo que elas aceitaram fazer o quadro antes, e que por isso não poderiam deixar de fazê-lo, agora que já estavam sendo filmadas. Em um dos vídeos, quando elas estão demonstrando claramente estar sentindo dor, ele fica jogando balão de água na cara delas, e mandando-as parar de gritar. Bem, o que eu vejo nesses vídeos, ou na descrição deles são cenas de violência explicita contra a mulher, e isso sendo tratado como ‘comédia’. Penso que esse tipo de programação na TV aberta faz um desfavor ao país, colocando de forma clara a suposta inferioridade da mulher diante do homem, ou diante de qualquer outra coisa, ou ideia. Pois, pra mim é difícil conceber que haja algum respeito qualquer que seja pela mulher quando coisas assim são feitas, e televisionadas. Os argumentos mais facilmente encontrados são 3: - Um que diz que elas têm a opção de fazer, ou deixarem que façam o que bem entenderem com o corpo delas. Sinceramente??? Eu não acho que é por ai não. Isso está sendo vinculado na mídia, as pessoas se espelham nesse tipo de atitude, e reproduzem em seus ambientes. Nós, mesmo quando não queremos, carregamos algumas características que representam um grupo de pessoas, e não temos como nos livrar disso. Elas são mulheres, e mesmo que elas não queiram, e que eu não queira, elas me representam lá, assim como representam todas as mulheres. Dizer que as pessoas adultas que assistem têm discernimento suficiente para não reproduzir isso também, em minha opinião, não é um argumento forte. Conheço muito pouco de Foucalt, mas tive uma aula sobre Dispositivos de Poder, e pelo que eu entendi, ele argumenta exatamente isso, que o poder se baseia em discursos sociais que são vinculados, que geram uma forma de ver o mundo. Qual é o discurso que passa nesse programa, qual é a forma de ver o mundo que ele nos propõe? Que a mulher está aí para ser violentada, e para que isso se torne uma forma de Piada, que isso seja engraçado, e dê ibope (lucro). Ainda seguindo essa ideia, algumas pessoas dizem: "o controle remoto existe pra isso, não assistam ao programa". Sim, a gente escolhe sim o que vamos assistir, mas não é porque eu não assisto, que vou fingir que não está acontecendo. Acho que temos que olhar sim o que está acontecendo na nossa mídia e na nossa sociedade que discordamos, e temos sim que buscar formas de PELO MENOS expor nossas opiniões sobre o que discordamos. Atualmente a máxima "cada um cuida da sua vida" tem produzido aberrações, algumas vezes irreversíveis. Somos responsáveis pelo outro SIM, mesmo sem conhecê-lo, mesmo sem ter sido EU que raspei o cabelo dela, me sinto responsável por viver e, consequentemente, produzir uma sociedade onde o que menos importa é a dignidade humana, MESMO QUE ESSA DIGNIDADE NÃO SEJA A MINHA ENQUANTO PESSOA. Esse individualismo está nos empurrando para o buraco, e confesso ter medo de que quando a maioria perceber isso, seja tarde demais. - Há o argumento de que o programa exagerou APENAS quando rasparam o cabelo da Panicat ontem. Eu também discordo desse argumento, e acho que as descrições e os videos acima são auto-explicativos para mostrar onde acho que eles violentam a mulher de diversas formas, e todas inconcebíveis (pra mim). Quando penso no motivo de o fato de o cabelo ter sido a 'gota d'água' pra muita gente, fico pensando que a lógica que rege a revolta é a mesma que rege a ação. As pessoas acham um absurdo pois o cabelo é muito importante para a vaidade da mulher, ela trabaha com a imagem dela, e raspar a sua cabeça afeta diretamente a sua imagem corporal, o que pode impossibilitar que ela consiga trabalhos. Sim, concordo com tudo isso, mas fico me perguntando se realmente raspar o cabelo é TÃO PIOR do que agredir fisicamente, expor as mulheres a situações potencialmente geradoras de ferimentos físicos, e que de fato os geram (se expor ao veneno de um escorpião, colocando a saúde em risco, pra mim é mais sério do que ficar sem cabelo - Não estou dizendo que não prezo por meu cabelo, convivo com uma mulher que está fazendo quimioterapia, e o sofrimento de perder o cabelo é grande SIM, apenas não acho que seja mais importante do que garantir a saúde das pessoas.) - E o argumento que eu defendo, de que o programa exagera desde a sua concepção na TV, e que realmente o limite já foi ultrapassado há muito tempo. Penso que o programa ainda cria outras formas de preconceitos e estereótipos. Reparem que há um personagem masculino pratica ativamente a violência contra as mulheres na maioria das vezes, como podemos ver nos exemplos que separei pra esse post. Dizer que eles também “zoam” um homem em nada ajuda, porque, será que é MESMO coincidência o fato de o zoado ser o “Gordinho”?? (No vídeo das calcinhas, elas fazem uma ‘revanche’, e ele tem que fazer o mesmo. Pra mim, isso não melhora em nada. A violência contra a mulher não se anula quando se pratica violência contra o homem logo em seguida. Mas ainda assim, ele pôde sentir dor assentado, sem ninguém obrigá-lo a se levantar...as mulheres que praticaram essa violência contra ele, 'respeitaram' - de certa forma, a sua dor. Coisa que ele foi incapaz de fazer). Não são apenas esses estereótipos que o programa ajuda a manter, ao mesmo tempo em que coloca no pior lugar da sociedade, aquele em que a pessoa realmente merece ser agredida, tem outros personagens que reiteram essa ideia. Gostaria de deixar claro que não estou querendo interferir na liberdade individual das pessoas. Há poucos dias a Lola postou um guest post sobre BDSM (sado-masoquismo), e acho que isso é uma escolha individual. Mas, penso que SOMOS RESPONSÁVEIS PELOS OUTROS tambem nas escolhas que fazemos para nossa vida pessoal, e é aí que está o meu questionamento: transmitir isso na TV sem o mínimo de crítica às possiveis consequencias das ações. Achar que tudo isso são grandes coincidências, pra mim, é uma grande ingenuidade. Vamos continuar sendo ingênuos? E rindo de todas essas violências e preconceitos...??? Ou vamos tentar ver além do que esta sendo dito e feito (aliás, nesse caso, nem tentam esconder nada...), pensar sobre isso? Pensar em como essas informações chegam para todas as pessoas que assistem... E as consequências disso?!?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A origem do meu feminismo, ou a origem da consciência do meu feminismo?!


Dizer sobre a origem do meu feminismo é difícil. Não sei datar e especificar quando me tornei feminista, pois foi um lento processo de incomodo com quase tudo. Creio que foi junto com a minha formação como ser pensante. Dizer como me percebi feminista é bem mais fácil. Este ano, tive uma aula na faculdade sobre o assunto, com uma professora feminista, e naquele momento, tive a oportunidade de entender que aquilo que eu sentia, que eu pensava, que eu fazia era SER FEMINISTA. SIM, EU ERA FEMINISTA! SEMPRE FUI, E AGORA ENTENDIA QUEM EU ERA, O QUE EU SOU, E SEMPRE FUI.

Comecei a pesquisar o assunto, e encontrei o “Mundo dos blogs feministas”, passava noites em claro lendo, pensando, escrevendo... Com toda essa reflexão, percebi que minha inquietação não é apenas com a desigualdade de oportunidades entre os gêneros, e sim com a desigualdade arbitrariamente imposta diante de qualquer diferença: raças diferentes, distintas classes sociais, orientações sexuais, diferenças nos corpos (as chamadas deficiências ou as doenças), ou qualquer desigualdade de oportunidades que tentam se justificar, mas que apenas reproduzem um discurso de dominação de “um-referência” sob o “outro-diferente”.

Convivo diariamente com o preconceito contra os deficientes (minha mãe é surda); em minha família, dizem que chego a ser chata contra o racismo; sempre tive uma quedinha pelo socialismo, apesar de não ter muita coragem de me assumir, por nunca ter me detido aprofundadamente em estudos sobre o assunto... Sempre considerei a religião, da forma que eu tive a oportunidade de conhecer, e quando levada ao extremo, uma forma de formatar e não considerar as diferenças individuais. Por esses e inúmeros outros motivos, fui me tornando sensível a essas desigualdades de oportunidades perversas que mantém uma lógica muito confortável para quem é a referência: homens, brancos, social e financeiramente privilegiados, heterossexuais, com corpos “perfeitos” (tanto estética quanto estruturalmente) e saúde preservada.

Pergunto-me diariamente, se não teríamos um mundo muito melhor, se todas as pessoas começassem a se questionar quanto ao porquê. PORQUÊ AGIMOS DESSA OU DAQUELA FORMA... penso que assim, essas desigualdades de oportunidades seriam escancaradas, e seria uma forma de mudar a situação que, na minha opinião, é ridícula há muito tempo.
Mas nenhum desses incômodos, nenhum desses pensamentos e discursos de igualdade me mobilizaram a ponto de me fazer agir efetivamente além das ações do dia-a-dia.

O feminismo fez isso comigo. O feminismo me fez sair da minha zona de conforto, me fez pesquisar, ler, pensar, discutir, e decidir que mesmo com possíveis represálias, iria divulgar minha opinião e meus pensamentos aqui no blog. Além disso, comecei a fazer uma pesquisa sobre o assunto com a professora que me ajudou a denominar meus sentimentos. Pensando bem, o feminismo sempre fez isso comigo, creio que por ser a discriminação que sinto na pele. Por perceber nos discursos que o machismo manda em nossa sociedade, e que isso me atinge de diversas formas... Me atinge, e atinge todas as pessoas, mesmo sem que elas percebam. Sempre discuti arduamente o assunto quando surgia em uma mesa de bar, tentando desvendar as ideologias escondidas em situações naturalizadas com uma facilidade incrível... Apenas não sabia, ainda, que isso era feminismo.

Diante desses pensamentos, minha vida acabou mudando de rumo, e estou muito feliz com isso. É muito bom encontrar o que nos mobiliza, o sentimento de completude é sensacional.
Acredito que temos que pensar sobre questões que não nos ensinaram a pensar. Questionar “regras sociais” e consensos que são aceitos e reproduzidos sem sequer termos consciência disso. Somos seres pensantes, e devemos pensar nos nossos atos. Uma amiga diz não acreditar na justiça. Eu acredito. Eu acredito ser possível que tenhamos oportunidades iguais para as pessoas. Fácil, eu sei que não é. Mas é possível. Essa é uma utopia que sigo e espero não ser a única...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Até quando vamos aceitar a palhaçada que acontece nos períodos de eleições??

SOMOS OBRIGADOS A FICAR VENDO ESSAS COISAS RIDÍCULAS QUE VEMOS NA TV, NO RÁDIO, NAS RUAS??

Será que não tem mesmo outra saída??


Por quanto tempo votaremos no menos pior? Por quanto tempo aceitaremos isso??


Um post sem imagens, sem muitas palavras. Acho que aqui deixo mais a minha indignação, um protesto e uma sensação de vergonha de tudo isso... E de luto...


TEMOS QUE FAZER ALGO PRA MUDAR. Antes que tudo isso entre num colapso de proporções gigantescas... (que pra mim, na verdade, já entrou...)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"Cantadas" na rua



(Quanto à imagem do Obama, não estou querendo dizer que ele estava de fato olhando pra bunda dela... apenas que esse foi um fato amplamente divulgado na imprensa brasileira)

Há algum tempo quero escrever sobre as infelizes “cantadas” que as mulheres são obrigadas a ouvir quando andam nas ruas.

É tiro e queda: basta dar uma volta no bairro pra ver alguma mulher sendo “cantada”. Penso muito sobre o assunto... tento entender o que os homens pensam. Ou Será que simplesmente não pensam que nós não somos meros objetos sexuais, que servem apenas para a contemplação?!...

Uma vez li uma definição de relação sexual, que tenho certeza, nunca me esquecerei. Ela dizia que para uma relação sexual acontecer há, necessariamente, a objetivação de ambos os corpos. Pra mim, foi uma definição muito explicativa. Se apenas um dos corpos é objetivado, algo de errado esta acontecendo. Alguém não está, necessariamente, querendo aquilo.

É aí que entra a minha reflexão sobre aqueles barulhos que ouvimos na rua: “huuum....” “nossa...” “oh, lá em casa”... e às vezes, menos sonoro, mas não menos ofensivo os olhares que são bem teatralizados com o resto do corpo...





Nesses casos, apenas um dos corpos é objetivado e, sinceramente, não está tudo bem. Infelizmente no momento, costumamos não ter o que fazer. Um dia vi uma conhecida parar e conversar com o cara, que levou um susto... Aquele ‘objeto’ era uma pessoa! Mas, estávamos em uma situação atípica: na praia, ela estava na companhia de amigas, de bom humor, etc, etc, etc.

Não estou aqui dizendo que todas as mulheres pensam como eu, de forma alguma. Mas, sinceramente, nunca ouvi nenhuma dizendo que adora quando é cantada na rua, com aquelas frases ofensivas, que me poupei de colocar aqui. Particularmente, desconfio quando usam o argumento de que quando uma mulher está com baixa auto-estima, passa em frente a uma construção só para ouvir os “elogios”... Sei lá... pra mim isso é um argumento que os homens usam pra tentar justificar o que fazem...

Aquela história de que “então, coloque outra roupa”, pra mim, também não cola. Não dizem que estamos numa sociedade livre?? Pois então que as mulheres usem a roupa que quiserem! A excessiva sexualização do corpo da mulher faz com que ela deixe de ser uma pessoa, e passe a ser mero objeto de contemplação... É muito triste ter que reconhecer, que a mulher não pode sair na rua sem ser sexualmente objetivada, sem a menor chance de defesa.



Uma vez em uma aula, comentamos sobre isso, e eu entrei em uma discussão com um colega que dizia ser muito mais ofensivo quando a “cantada” fazia referência a valores, do que quando era apenas um “elogio”. Eu discordei dele, e acho que ele não compreendeu meus argumentos... Penso que ao dizer isso, ele está colocando alguns pressupostos em sua fala: primeiramente, ele coloca a prostituta em situação inferior e ofensiva, e depois considera que as “cantadas” sem referências a valores são normais, e aceitáveis. Pra mim, a objetivação do outro é a mesma, e a questão da prostituição é assunto não pra um blog, mas para uma vida inteira...

Não estou aqui defendendo que devemos andar nas ruas com uma viseira de cavalo, olhando apenas para certificarmos que não seremos atropelados. Inúmeras vezes a beleza alheia é reparada, sem ser de forma ofensiva... Estou apenas tentando dizer que quando isso não acontece, muitas de nós nos sentimos ofendidas, e torcemos muito, para um dia podermos sair nas ruas com a certeza de que não teremos que ouvir o que não queremos...

E, VIVA A DISCRIÇÃO!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Borboletas de Zagorsk




Hoje, por acaso me deparei com o documentário “Borboletas de Zagorsk” no youtube. Muitos colegas já tinham me indicado, mas nunca tinha assistido.

Como já disse algumas vezes, esse blog se destina a debater basicamente sobre desigualdades de oportunidades (Apesar de declaradamente feminista, as discussões aqui não se restringirão a esse assunto...). E nesse post, em específico, vou falar sobre IGUALDADE DE OPORTUNIDADES...

O documentário, com duração de 40 minutos, foi feito em 1992 pela BBC, e mostra o trabalho desenvolvido em uma escola Russa, que idealizada por Vygotsky (amplamente estudado na psicologia e pedagogia, provavelmente mais recorrentemente na segunda [é, Psicólogos... a vida não é feita só de Freud...]), recebe e educa crianças surdascegas.

O documentário chega a ser chocante. E por basear-se em apenas um preceito qualquer um pode aprender, desde que se encontre o método ideal.
Uma das historias mais marcantes, é a de uma psicóloga, filósofa e poeta que, por ter ficado surdocega na infância, foi educada em Zagorsk. Transcreverei um de seus poemas, que é recitado no filme:

Contra a escuridão e o isolamento - surdocegueira
“Dê me tua mão, que eu te direi quem és.
Em minha silenciosa escuridão,
Mais clara que o ofuscante sol,
Está tudo que desejarias ocultar de mim.
Mais que palavras,
tuas mãos me contam tudo que recusavas dizer.
Fremente de ansiedade ou tremula de fúria,
Verdadeira amizade ou mentira,
Tudo se revela ao todo de uma mão,
Quem é estranho, quem é amigo.
Tudo eu vejo na minha silenciosa escuridão.
Dê me tua mão, que te direi quem és.”
Poema de Natasha – Retirado do documentário “Borboletas de Zagorsk”




Igualdade de oportunidades. Mesmo com as mais severas limitações, “deficiências”, dificuldades, TODOS SOMOS CAPAZES. Basta apenas que tenhamos possibilidade de desenvolver nossas potencialidades.

Hoje, só consigo ver uma única coisa que impede um ser humano de fazer qualquer coisa: a descrença. A sua própria e a dos outros. Por isso temos aversão à pena. Quando pensamos: “Tadinho de fulano... tudo é tão difícil pra ele...” acabamos por colocar no fulano uma incapacidade prévia... Com o tempo, próprio fulano começa a acreditar nisso, e ai sim qualquer um se torna ‘incapaz’.

Há algum tempo assisti ao filme “O escafandro e a borboleta” (coincidentemente os dois filmes fazem referência a esse inseto que feio no inicio da vida, se torna um dos insetos mais belos, que termina seus dias voando, espalhando a beleza no mundo, e polinizando plantas...).
É outro exemplo de que inválido é apenas aquele que é taxado, e passa a se sentir assim. O filme é baseado em um livro escrito por um homem que move apenas as pálpebras, resultado de uma doença que o torna tetraplégico. O livro pode ser comprado, e a sua adaptação para o cinema é emocionante.

Exemplos não me faltam. O que confesso que me falta é capacidade de entender como continuamos escolhendo esse caminho, que parece ser o mais fácil, de desacreditar o outro, e a nós mesmos. Aqui entram tantos debates infinitos, como a educação pública no Brasil, a situação dos chamados deficientes... Enfim, assunto pra vidas inteiras...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ê, D. Maria...




Todos nós já ouvimos que “Mulher no volante, perigo constante”... Confesso que eu tenho minhas dificuldades, que meu amado namorado não se cansa de enumerar todas as vezes que eu estou dirigindo... o que me faz praticar cada dia menos...

Várias vezes que alguém faz algo indevido no transito, percebo que é uma mulher, e não é raro ouvirmos a frase: “Ê, dona Maria.... volta pro fogão, lá que é seu lugar!”....

É conhecido por todos que o espaço público é o do homem e o espaço privado, da mulher. Conheço várias mulheres que dirigem super bem, e percebi que todas elas contam sobre uma infância semelhante: “Sempre tive mais amigos homens, ou sempre brincava com meus irmãos (todos homens)... as pessoas achavam que eu era um menininho, me chamavam de homenzinho...” E todas já ouviram que “dirigem igual a um homem”...

As meninas não podem sujar o vestido, e tem que ficar com a perna fechada. Não podem correr, porque elas vão sujar e estragar o penteado, e ficar feias, com o pé sujo ou o sapatinho tão lindo... estragado. Os meninos devem correr, pular o muro, subir em árvores, já saem de casa com uma roupa que lhes dá liberdade para brincar, pular, correr...

Dessa forma, desde muito cedo os meninos desenvolvem sua percepção espacial, eles aprendem muito cedo o tempo que demorarão pra correr ate a parede, brincam de carrinho, e com isso, vão desenvolvendo as habilidades que usamos ao dirigir muito mais cedo do que nós, meninas... lindas, arrumadas e cheirosas que ficamos em casa brincando de Barbie, escolinha e casinha. (Não que eu seja contra essas brincadeiras, apenas não acho bacana que as meninas fiquem SÓ com essas brincadeiras.)

A questão das brincadeiras de gênero é muito discutida, alguns pais já conseguem sair um pouco do beabá há tanto tempo estipulado, mas isso ainda não é tão difundido e aceito. Tanto é que continuamos ouvindo frases como: “Isso não é brincadeira pra menina”, e o famoso “Ê, D. Maria...”



Quando fui procurar imagens pra esse post, escrevi no Google imagens: “mulheres no volante” e invariavelmente apareceram imagens de acidentes esdrúxulos, explicados pelo fato de os carros acidentados estarem sendo dirigidos por mulheres...

Dirigir hoje significa liberdade, se você dirige vai onde quiser, quando quiser, e quando alguém assume que não gosta de dirigir e que não vai dirigir, as cobranças e reclamações são enormes.

Mas, será mesmo que temos que cobrar de alguém que nunca teve que usar sua noção de espaço que saiba exatamente se o carro vai ou não passar entre os ônibus, será que temos que cobrar tanta perfeição se essa pessoa jamais usou os sentidos dessa forma??

Teoricamente não é difícil mudar essa realidade, basta que passemos a aceitar que meninas brinquem das brincadeiras “de menino”, e vice-versa.



Parte o coração quando vamos a uma festa infantil e tem uma menina linda, com um vestidinho igual ao de uma princesa, assentada ao lado do pula-pula com os olhos brilhando. E quando você pergunta pra ela porque ela não vai brincar, ela diz que não pode estragar o vestido da cinderela que ganhou...