terça-feira, 15 de junho de 2010

Pânico na TV...




Hoje decidi escrever sobre uma coisa que confesso... Me faz mal.
Pânico na TV.
Comecei a procurar uns vídeos no youtube pra eu ter mais argumentos, e para colocar alguns vídeos aqui no post. Mas sinceramente?? Não foi uma boa ideia. Estou enjoada, com raiva, coração disparado, e com aquela sensação de falta de esperança na humanidade que eu DETESTO sentir. Sim, estou abrindo meu coração antes de falar sobre esse programa que passa na TV Brasileira. Tentarei ser o mais elegante possível, mas desculpem-me se não conseguir. Sinceramente é difícil, quando se trata desse assunto. Vale dizer que eu não assisto ao programa, vi algumas coisas na TV, por estar em algum lugar em que estivesse passando, e olhei algumas coisas aqui na internet. Não sou uma profunda conhecedora do programa e seus personagens, e o motivo ficará claro ao longo do post.
Desde muito nova, quando voltava da escola, meu pai, ou o motorista da van iam ouvindo aquele programa do rádio “Pânico”. Era um programa de entrevistas, e não me lembro de ter ficado incomodada com ele. Esse programa foi para a TV, com o nome “Pânico na TV”, e não costumava assisti-lo...
Minha revolta começou quando aquele quadro “Vô, Num vô” começou a ser exibido, e virar mania nacional. Sim, infelizmente, vivo num país em que esse tipo de coisa vira mania nacional. Dois caras saiam pelas praias do Brasil, abordavam mulheres e colavam adesivos nos quais estavam escritos “Vô, Num vô e Camarão” no corpo delas. Sendo que essas palavras demonstravam se eles “comeriam” ou não a mulher, ou se fariam como com camarão “tirar a cabeça e comer o resto”. Depois de colarem o adesivo, enterrar uma plaquinha com o que a mulher merecia (como que demarcando território), eles as pediam para que elas lhes “dessem a pata”, para dar uma voltinha, e o telespectador ter uma visão mais completa.
É chover no molhado dizer que estão objetivando a mulher??? Que essa atitude humilha a mulher, e não deveria acontecer? O pior é que eu não sei... A maioria das pessoas com as quais converso acha isso engraçado. Ri disso, e não percebe como eu percebo. Fazendo isso, eles colocam a mulher como um produto a ser consumido ou não, dependendo da vontade do homem. PERAÍ. Para o sexo acontecer, precisa-se de duas pessoas, e teoricamente, as duas teriam que ter se escolhido mutuamente, escolhido a forma, e o lugar em comum acordo. Não é isso que esse quadro demonstra. Na época, lembro que comecei a pensar como eu agiria se eu estivesse na praia e visse aquela equipe de TV. Aterrorizava-me ainda mais o fato de eles bradarem aos sete ventos, que a justiça brasileira não os impediria a nada. Pensava em saídas para não me encontrar com eles, e, sentia e sinto uma tristeza IMENSA quando vejo aquele quadro.
(Só um exemplo desse quadro, mas infelizmente, acho que se você vive no Brasil, já o viu pelo menos uma vez...
http://www.youtube.com/watch?v=XMHWeyejg84&feature=related)
O pior é que não parou por ai. Eles conseguiram mulheres fixas para humilhar e mostrar como coisas (alguns exemplos que me lembro, são as PANICATS, a Sabrina Satto, e a Samambaia – interessante que quando a gente quer dizer que uma pessoa é burra, fazemos alusão às plantas...). Infelizmente vi algumas cenas que muito me entristeceram. Vou colocar alguns links aqui, e fazer uma breve descrição do que aconteceu nesses quadros. (Assista apenas se você tiver estomago muito forte.)
- Teste de calcinha em guindaste: Nessa ocasião, eles decidiram “testar a qualidade da calcinha” usada por elas, levantando-as pela calcinha com um guindaste. É claro que o objetivo não era esse. O objetivo, era ver mulheres gostosas sendo levantadas pela calcinha por um guindaste, ate a calcinha arrebentar. (Imagino como deve doer você ter todo o peso do seu corpo levantado pela calcinha...) *Especialmente esse vídeo é muito pesado, foi muito difícil eu assisti-lo até o fim pra poder postar, e fiquei em duvida se o colocaria ou não aqui o link para ele.
http://www.youtube.com/watch?v=VIUmQpygFPg
- Escorpião picando a bunda da Sabrina: Ela se assentou em uma pedra, e deixou que um escorpião a picasse. Caiu no chão chorando, e a voz que narrava a cena ao fundo fazia piada daquela situação e da dor que ela sentia.
http://www.youtube.com/watch?v=lfuXjeLoqoU&feature=related
- Em uma ocasião que muito me espantou, elas foram colocadas em um lugar com cães famintos e carne crua costurada nos biquínis. Foram “jogadas aos cães”, em uma referencia àquelas situações nas quais os gladiadores eram jogados aos leões para divertir aos cidadãos da Roma Antiga. Esse vídeo mostra só a preparação do “espetáculo”. Se tiverem interesse em ver o final, basta procurar no youtube.
http://www.youtube.com/watch?v=XETLo_zrheM
Não poucas vezes as vi chorando, dizendo que não queriam fazer, além de uma referência à unidade de atendimento móvel para a sua segurança com conseguinte focalização da câmera em um caminhão de brinquedo... Quando elas começam a demonstrar que não querem fazer, o Bola (um dos integrantes da equipe, que é constantemente zoado pelos outros), grita com elas e as xinga muito, ameaçando que vai colocar outra no lugar delas, e dizendo que elas aceitaram fazer o quadro antes, e que por isso não poderiam deixar de fazê-lo, agora que já estavam sendo filmadas. Em um dos vídeos, quando elas estão demonstrando claramente estar sentindo dor, ele fica jogando balão de água na cara delas, e mandando-as parar de gritar.
Bem, o que eu vejo nesses vídeos, ou na descrição deles são cenas de violência explicita contra a mulher, e isso sendo tratado como ‘comédia’. Penso que esse tipo de programação na TV aberta faz um desfavor ao país, colocando de forma clara a suposta inferioridade da mulher diante do homem, ou diante de qualquer outra coisa. Pois, pra mim é difícil conceber que haja algum respeito qualquer que seja pela mulher quando coisas assim são feitas, e televisionadas.
Um argumento muito utilizado é o de que elas têm a opção de fazer, ou deixarem que façam o que bem entenderem com o corpo delas. Sinceramente??? Eu não acho que é por ai não. Isso está sendo vinculado na mídia, as pessoas se espelham nesse tipo de atitude, e reproduzem em seus micro ambientes. Nós, mesmo quando não queremos, carregamos algumas características que representam um grupo de pessoas, e não temos como nos livrar disso. Elas são mulheres, e mesmo que elas não queiram, e que eu não queira, elas me representam lá, assim como representam todas as mulheres. Dizer que as pessoas adultas que assistem têm discernimento suficiente para não reproduzir isso também, em minha opinião, não é um argumento forte. Conheço muito pouco de Foucalt, mas tive uma aula sobre Dispositivos de Poder, e pelo que eu entendi, ele argumenta exatamente isso, que o poder se baseia em discursos sociais que são vinculados, que geram uma forma de ver o mundo. Qual é o discurso que passa nesse programa, qual é a forma de ver o mundo que ele nos propõe? Que a mulher está aí para ser violentada, e para que isso se torne uma forma de Piada, que isso seja engraçado, e dê ibope.
Penso que o programa ainda cria outras formas de preconceitos e estereótipos. Reparem que a personagem que pratica ativamente a violência contra as mulheres na maioria das vezes, como podemos ver nos exemplos que separei pra esse post, é o Bola. Dizer que eles também “zoam” um homem em nada ajuda, porque, será que é MESMO coincidência o fato de o zoado ser o “Gordinho”?? (No vídeo das calcinhas, elas fazem uma ‘revanche’, e ele tem que fazer o mesmo. Pra mim, isso não melhora em nada. A violência contra a mulher não se anula quando se pratica violência contra o homem logo em seguida Mas ainda assim, ele pode sentir dor assentado, sem ninguém obrigá-lo a se levantar...as mulheres que praticaram violência contra ele, respeitaram a sua dor. Coisa que ele foi incapaz de fazer). Além do estereótipo que eles criam com o “Cristian Pior”. A personagem que teoricamente representa o movimento LGBT, (continuando a ideia de que representamos uma classe mesmo se não quisermos), já tem PIOR no nome. Ah, ainda tem uma coisa que me chama atenção. A sátira que eles fazem da Marília Gabriela, que é reconhecida como uma mulher inteligente, que faz entrevistas ótimas com qualquer um. (Não estou falando de opiniões, mas de como ela é conhecida no “meio artístico”). Será que eles a satirizam, e a colocam num lugar ridículo à toa???
Achar que tudo isso são grandes coincidências, pra mim, é uma grande ingenuidade. Vamos continuar sendo ingênuos? E rindo de todas essas violências e preconceitos...??? Ou vamos tentar ver além do que esta sendo dito (aliás, nesse caso, nem tentam esconder nada não...), pensar sobre isso? Pensar em como essas informações chegam para todas as pessoas que assistem... E as consequências disso?!?

3 comentários:

  1. Nossa.. quantas vezes já discutimos o Pânico na tv.. mas eu sou da opnião q certas coisas só acontecem, pq as pessoas dão liberdade para tal ação...
    Eu entendo q isso seja muito maior que uma simples brincadeira que dá ibope, que reflete todo o machismo e como, nesse caso, como homem brasileiro trata a mulher.. É muito ampla a discussão. Quanto ao comentário à satira da Marília Gabriela, uma mulher que eu admiro muito, ela participou do quadro Marília Gabriherpes e acho q ela se divertiu, como é o objetivo do quadro... não sei.. opnião minha...
    Beijo querida..!!

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  2. Eu tbm fico pensando nisso da permissão que essas mulheres dão, para serem publicamente humilhadas. Acho que ambos os lados estão errados: elas que continuam se submetendo a essas humilhações, violência explícita mas permanecem no programa e ganham dinheiro pra isso (daí formando um exemplo para as mulheres) e os produtores e apresentadores do programa, que eu sinceramente tenho o maior nojo, pois logo se vê que são pessoas que não têm o menor respeito pela figura feminina e nem o menor interesse por fazer um programa de humor de qualidade. Revoltada totalmente, em especial com o vídeo da calcinha, com o Bola rindo e chicoteando as mulheres, fora o momento que ela gritou com a Sabrina como se ela não fosse alguém merecedora de respeito.

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  3. Imagino que esse programa deveria revoltar a todas as mulheres, mas por incrível que pareça, algumas assistem!
    Eu só assisti uma vez, a convite de amigos que me disseram que o programa era muito bom. Não achei a menor graça, e nunca mais perdi meu tempo com essa merda (me desculpem a palavra, rsrs...). Nem sabia que absurdos como esses tinham sido transmitidos, e me recuso a assisti-los.
    Considero que o programa de rádio deles também é chatíssimo, e é difícil entender como alguém pode gostar desses caras... Minha hipótese é uma lista de condicionamentos da qual todos somos vítimas, e poucos conseguiram transcender...
    Mas felizmente, os que conseguiram agora podem levar a consciência ao resto, correndo o risco de serem vaiados, mas com a calma e a coragem de quem conhece sua missão.

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