quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A origem do meu feminismo, ou a origem da consciência do meu feminismo?!


Dizer sobre a origem do meu feminismo é difícil. Não sei datar e especificar quando me tornei feminista, pois foi um lento processo de incomodo com quase tudo. Creio que foi junto com a minha formação como ser pensante. Dizer como me percebi feminista é bem mais fácil. Este ano, tive uma aula na faculdade sobre o assunto, com uma professora feminista, e naquele momento, tive a oportunidade de entender que aquilo que eu sentia, que eu pensava, que eu fazia era SER FEMINISTA. SIM, EU ERA FEMINISTA! SEMPRE FUI, E AGORA ENTENDIA QUEM EU ERA, O QUE EU SOU, E SEMPRE FUI.

Comecei a pesquisar o assunto, e encontrei o “Mundo dos blogs feministas”, passava noites em claro lendo, pensando, escrevendo... Com toda essa reflexão, percebi que minha inquietação não é apenas com a desigualdade de oportunidades entre os gêneros, e sim com a desigualdade arbitrariamente imposta diante de qualquer diferença: raças diferentes, distintas classes sociais, orientações sexuais, diferenças nos corpos (as chamadas deficiências ou as doenças), ou qualquer desigualdade de oportunidades que tentam se justificar, mas que apenas reproduzem um discurso de dominação de “um-referência” sob o “outro-diferente”.

Convivo diariamente com o preconceito contra os deficientes (minha mãe é surda); em minha família, dizem que chego a ser chata contra o racismo; sempre tive uma quedinha pelo socialismo, apesar de não ter muita coragem de me assumir, por nunca ter me detido aprofundadamente em estudos sobre o assunto... Sempre considerei a religião, da forma que eu tive a oportunidade de conhecer, e quando levada ao extremo, uma forma de formatar e não considerar as diferenças individuais. Por esses e inúmeros outros motivos, fui me tornando sensível a essas desigualdades de oportunidades perversas que mantém uma lógica muito confortável para quem é a referência: homens, brancos, social e financeiramente privilegiados, heterossexuais, com corpos “perfeitos” (tanto estética quanto estruturalmente) e saúde preservada.

Pergunto-me diariamente, se não teríamos um mundo muito melhor, se todas as pessoas começassem a se questionar quanto ao porquê. PORQUÊ AGIMOS DESSA OU DAQUELA FORMA... penso que assim, essas desigualdades de oportunidades seriam escancaradas, e seria uma forma de mudar a situação que, na minha opinião, é ridícula há muito tempo.
Mas nenhum desses incômodos, nenhum desses pensamentos e discursos de igualdade me mobilizaram a ponto de me fazer agir efetivamente além das ações do dia-a-dia.

O feminismo fez isso comigo. O feminismo me fez sair da minha zona de conforto, me fez pesquisar, ler, pensar, discutir, e decidir que mesmo com possíveis represálias, iria divulgar minha opinião e meus pensamentos aqui no blog. Além disso, comecei a fazer uma pesquisa sobre o assunto com a professora que me ajudou a denominar meus sentimentos. Pensando bem, o feminismo sempre fez isso comigo, creio que por ser a discriminação que sinto na pele. Por perceber nos discursos que o machismo manda em nossa sociedade, e que isso me atinge de diversas formas... Me atinge, e atinge todas as pessoas, mesmo sem que elas percebam. Sempre discuti arduamente o assunto quando surgia em uma mesa de bar, tentando desvendar as ideologias escondidas em situações naturalizadas com uma facilidade incrível... Apenas não sabia, ainda, que isso era feminismo.

Diante desses pensamentos, minha vida acabou mudando de rumo, e estou muito feliz com isso. É muito bom encontrar o que nos mobiliza, o sentimento de completude é sensacional.
Acredito que temos que pensar sobre questões que não nos ensinaram a pensar. Questionar “regras sociais” e consensos que são aceitos e reproduzidos sem sequer termos consciência disso. Somos seres pensantes, e devemos pensar nos nossos atos. Uma amiga diz não acreditar na justiça. Eu acredito. Eu acredito ser possível que tenhamos oportunidades iguais para as pessoas. Fácil, eu sei que não é. Mas é possível. Essa é uma utopia que sigo e espero não ser a única...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Até quando vamos aceitar a palhaçada que acontece nos períodos de eleições??

SOMOS OBRIGADOS A FICAR VENDO ESSAS COISAS RIDÍCULAS QUE VEMOS NA TV, NO RÁDIO, NAS RUAS??

Será que não tem mesmo outra saída??


Por quanto tempo votaremos no menos pior? Por quanto tempo aceitaremos isso??


Um post sem imagens, sem muitas palavras. Acho que aqui deixo mais a minha indignação, um protesto e uma sensação de vergonha de tudo isso... E de luto...


TEMOS QUE FAZER ALGO PRA MUDAR. Antes que tudo isso entre num colapso de proporções gigantescas... (que pra mim, na verdade, já entrou...)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"Cantadas" na rua



(Quanto à imagem do Obama, não estou querendo dizer que ele estava de fato olhando pra bunda dela... apenas que esse foi um fato amplamente divulgado na imprensa brasileira)

Há algum tempo quero escrever sobre as infelizes “cantadas” que as mulheres são obrigadas a ouvir quando andam nas ruas.

É tiro e queda: basta dar uma volta no bairro pra ver alguma mulher sendo “cantada”. Penso muito sobre o assunto... tento entender o que os homens pensam. Ou Será que simplesmente não pensam que nós não somos meros objetos sexuais, que servem apenas para a contemplação?!...

Uma vez li uma definição de relação sexual, que tenho certeza, nunca me esquecerei. Ela dizia que para uma relação sexual acontecer há, necessariamente, a objetivação de ambos os corpos. Pra mim, foi uma definição muito explicativa. Se apenas um dos corpos é objetivado, algo de errado esta acontecendo. Alguém não está, necessariamente, querendo aquilo.

É aí que entra a minha reflexão sobre aqueles barulhos que ouvimos na rua: “huuum....” “nossa...” “oh, lá em casa”... e às vezes, menos sonoro, mas não menos ofensivo os olhares que são bem teatralizados com o resto do corpo...





Nesses casos, apenas um dos corpos é objetivado e, sinceramente, não está tudo bem. Infelizmente no momento, costumamos não ter o que fazer. Um dia vi uma conhecida parar e conversar com o cara, que levou um susto... Aquele ‘objeto’ era uma pessoa! Mas, estávamos em uma situação atípica: na praia, ela estava na companhia de amigas, de bom humor, etc, etc, etc.

Não estou aqui dizendo que todas as mulheres pensam como eu, de forma alguma. Mas, sinceramente, nunca ouvi nenhuma dizendo que adora quando é cantada na rua, com aquelas frases ofensivas, que me poupei de colocar aqui. Particularmente, desconfio quando usam o argumento de que quando uma mulher está com baixa auto-estima, passa em frente a uma construção só para ouvir os “elogios”... Sei lá... pra mim isso é um argumento que os homens usam pra tentar justificar o que fazem...

Aquela história de que “então, coloque outra roupa”, pra mim, também não cola. Não dizem que estamos numa sociedade livre?? Pois então que as mulheres usem a roupa que quiserem! A excessiva sexualização do corpo da mulher faz com que ela deixe de ser uma pessoa, e passe a ser mero objeto de contemplação... É muito triste ter que reconhecer, que a mulher não pode sair na rua sem ser sexualmente objetivada, sem a menor chance de defesa.



Uma vez em uma aula, comentamos sobre isso, e eu entrei em uma discussão com um colega que dizia ser muito mais ofensivo quando a “cantada” fazia referência a valores, do que quando era apenas um “elogio”. Eu discordei dele, e acho que ele não compreendeu meus argumentos... Penso que ao dizer isso, ele está colocando alguns pressupostos em sua fala: primeiramente, ele coloca a prostituta em situação inferior e ofensiva, e depois considera que as “cantadas” sem referências a valores são normais, e aceitáveis. Pra mim, a objetivação do outro é a mesma, e a questão da prostituição é assunto não pra um blog, mas para uma vida inteira...

Não estou aqui defendendo que devemos andar nas ruas com uma viseira de cavalo, olhando apenas para certificarmos que não seremos atropelados. Inúmeras vezes a beleza alheia é reparada, sem ser de forma ofensiva... Estou apenas tentando dizer que quando isso não acontece, muitas de nós nos sentimos ofendidas, e torcemos muito, para um dia podermos sair nas ruas com a certeza de que não teremos que ouvir o que não queremos...

E, VIVA A DISCRIÇÃO!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Borboletas de Zagorsk




Hoje, por acaso me deparei com o documentário “Borboletas de Zagorsk” no youtube. Muitos colegas já tinham me indicado, mas nunca tinha assistido.

Como já disse algumas vezes, esse blog se destina a debater basicamente sobre desigualdades de oportunidades (Apesar de declaradamente feminista, as discussões aqui não se restringirão a esse assunto...). E nesse post, em específico, vou falar sobre IGUALDADE DE OPORTUNIDADES...

O documentário, com duração de 40 minutos, foi feito em 1992 pela BBC, e mostra o trabalho desenvolvido em uma escola Russa, que idealizada por Vygotsky (amplamente estudado na psicologia e pedagogia, provavelmente mais recorrentemente na segunda [é, Psicólogos... a vida não é feita só de Freud...]), recebe e educa crianças surdascegas.

O documentário chega a ser chocante. E por basear-se em apenas um preceito qualquer um pode aprender, desde que se encontre o método ideal.
Uma das historias mais marcantes, é a de uma psicóloga, filósofa e poeta que, por ter ficado surdocega na infância, foi educada em Zagorsk. Transcreverei um de seus poemas, que é recitado no filme:

Contra a escuridão e o isolamento - surdocegueira
“Dê me tua mão, que eu te direi quem és.
Em minha silenciosa escuridão,
Mais clara que o ofuscante sol,
Está tudo que desejarias ocultar de mim.
Mais que palavras,
tuas mãos me contam tudo que recusavas dizer.
Fremente de ansiedade ou tremula de fúria,
Verdadeira amizade ou mentira,
Tudo se revela ao todo de uma mão,
Quem é estranho, quem é amigo.
Tudo eu vejo na minha silenciosa escuridão.
Dê me tua mão, que te direi quem és.”
Poema de Natasha – Retirado do documentário “Borboletas de Zagorsk”




Igualdade de oportunidades. Mesmo com as mais severas limitações, “deficiências”, dificuldades, TODOS SOMOS CAPAZES. Basta apenas que tenhamos possibilidade de desenvolver nossas potencialidades.

Hoje, só consigo ver uma única coisa que impede um ser humano de fazer qualquer coisa: a descrença. A sua própria e a dos outros. Por isso temos aversão à pena. Quando pensamos: “Tadinho de fulano... tudo é tão difícil pra ele...” acabamos por colocar no fulano uma incapacidade prévia... Com o tempo, próprio fulano começa a acreditar nisso, e ai sim qualquer um se torna ‘incapaz’.

Há algum tempo assisti ao filme “O escafandro e a borboleta” (coincidentemente os dois filmes fazem referência a esse inseto que feio no inicio da vida, se torna um dos insetos mais belos, que termina seus dias voando, espalhando a beleza no mundo, e polinizando plantas...).
É outro exemplo de que inválido é apenas aquele que é taxado, e passa a se sentir assim. O filme é baseado em um livro escrito por um homem que move apenas as pálpebras, resultado de uma doença que o torna tetraplégico. O livro pode ser comprado, e a sua adaptação para o cinema é emocionante.

Exemplos não me faltam. O que confesso que me falta é capacidade de entender como continuamos escolhendo esse caminho, que parece ser o mais fácil, de desacreditar o outro, e a nós mesmos. Aqui entram tantos debates infinitos, como a educação pública no Brasil, a situação dos chamados deficientes... Enfim, assunto pra vidas inteiras...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ê, D. Maria...




Todos nós já ouvimos que “Mulher no volante, perigo constante”... Confesso que eu tenho minhas dificuldades, que meu amado namorado não se cansa de enumerar todas as vezes que eu estou dirigindo... o que me faz praticar cada dia menos...

Várias vezes que alguém faz algo indevido no transito, percebo que é uma mulher, e não é raro ouvirmos a frase: “Ê, dona Maria.... volta pro fogão, lá que é seu lugar!”....

É conhecido por todos que o espaço público é o do homem e o espaço privado, da mulher. Conheço várias mulheres que dirigem super bem, e percebi que todas elas contam sobre uma infância semelhante: “Sempre tive mais amigos homens, ou sempre brincava com meus irmãos (todos homens)... as pessoas achavam que eu era um menininho, me chamavam de homenzinho...” E todas já ouviram que “dirigem igual a um homem”...

As meninas não podem sujar o vestido, e tem que ficar com a perna fechada. Não podem correr, porque elas vão sujar e estragar o penteado, e ficar feias, com o pé sujo ou o sapatinho tão lindo... estragado. Os meninos devem correr, pular o muro, subir em árvores, já saem de casa com uma roupa que lhes dá liberdade para brincar, pular, correr...

Dessa forma, desde muito cedo os meninos desenvolvem sua percepção espacial, eles aprendem muito cedo o tempo que demorarão pra correr ate a parede, brincam de carrinho, e com isso, vão desenvolvendo as habilidades que usamos ao dirigir muito mais cedo do que nós, meninas... lindas, arrumadas e cheirosas que ficamos em casa brincando de Barbie, escolinha e casinha. (Não que eu seja contra essas brincadeiras, apenas não acho bacana que as meninas fiquem SÓ com essas brincadeiras.)

A questão das brincadeiras de gênero é muito discutida, alguns pais já conseguem sair um pouco do beabá há tanto tempo estipulado, mas isso ainda não é tão difundido e aceito. Tanto é que continuamos ouvindo frases como: “Isso não é brincadeira pra menina”, e o famoso “Ê, D. Maria...”



Quando fui procurar imagens pra esse post, escrevi no Google imagens: “mulheres no volante” e invariavelmente apareceram imagens de acidentes esdrúxulos, explicados pelo fato de os carros acidentados estarem sendo dirigidos por mulheres...

Dirigir hoje significa liberdade, se você dirige vai onde quiser, quando quiser, e quando alguém assume que não gosta de dirigir e que não vai dirigir, as cobranças e reclamações são enormes.

Mas, será mesmo que temos que cobrar de alguém que nunca teve que usar sua noção de espaço que saiba exatamente se o carro vai ou não passar entre os ônibus, será que temos que cobrar tanta perfeição se essa pessoa jamais usou os sentidos dessa forma??

Teoricamente não é difícil mudar essa realidade, basta que passemos a aceitar que meninas brinquem das brincadeiras “de menino”, e vice-versa.



Parte o coração quando vamos a uma festa infantil e tem uma menina linda, com um vestidinho igual ao de uma princesa, assentada ao lado do pula-pula com os olhos brilhando. E quando você pergunta pra ela porque ela não vai brincar, ela diz que não pode estragar o vestido da cinderela que ganhou...

sábado, 3 de julho de 2010

Larissa Riquelme na Copa do Mundo




Já na reta final, um acontecimento na Copa do Mundo de Futebol, me chamou atenção. É declarado que esse é um campeonato basicamente masculino, e como já discuti aqui no post sobre a propaganda, é amplamente difundido que atinge basicamente homens.

Sabendo disso, eis que surge Larissa Riquelme. Uma lindíssima modelo Paraguaia, torcendo pela sua seleção, assim como milhares de pessoas ao redor do mundo. Fotógrafos flagraram essa bela mulher em Assunção-Paraguai, com um generoso decote e o celular entre os seios. As fotos da modelo correram o mundo, ela deu inúmeras entrevistas, foi convidada para trabalhos fotográficos em vários países. E, seguindo o exemplo de Maradona (atual técnico e grande ídolo da Seleção Argentina, que declarou que andará nu pelas ruas de Buenos Aires se a seleção que treina for campeã), Larissa Riquelme disse a um jornal Argentino que se o Paraguai vencesse a Espanha no jogo dessa tarde, ela andaria de biquíni (ou nua... as informações se contradizem) nas ruas de Assunção, para mostrar ao mundo a beleza da mulher Paraguaia.

Hoje, o Paraguai saiu da competição, por ter sido derrotado pela Espanha por 1X0. Assisti apenas alguns trechos do jogo, na Globo. Os comentaristas responsáveis pela partida não economizaram comentários sobre a modelo. Recordo-me de alguns. Um que dizia sobre a tristeza que o bandeirinha sentiu ao anular um gol do Paraguai. Foi dito que o bandeirinha torcia pela vitória do Paraguai, pois também queria vê-la andando pelas ruas da capital Paraguaia de biquíni, e não queria fazer a tristeza de milhões de torcedores que ansiavam a vitória dessa seleção para que então, pudesse ver o desfile previamente divulgado. Com o fim do jogo, o programa “Central da Copa”, que vai ao ar entre outros horários, após os jogos, exibiu um vídeo com cenas da musa torcendo durante a partida. O apresentador tecia comentários como:
- “Muito precavidos que são muito espertos, nossos companheiros fizeram um clip de Larissa Riquelme.
- (...) Tô com o coração partido realmente, não consigo trabalhar hoje.
- (...) Atenção às reações no gol anulado, aquele que disseram que o bandeirinha chorou: ai... oh.... (som semelhante a um leão)...risos. – enquanto a câmera focalizava seu rosto suado, filmando bem de perto sua boca.
- (...) Aí, ela falou um palavrão. E um outro comentarista diz: ‘ela é desbocada, né? Ela é desbocadinha’.
- (...) Colocou a mão no lugar errado na hora de vibrar, ela tampou a visão de metade do estádio ali.”
(Link para a reportagem sobre Larissa Riquelme no site da Globo: http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2010/07/com-patrocinio-no-seio-larissa-riquelme-torce-pelo-paraguai.html)



Essa bela mulher aproveitou que chamou a atenção dos fotógrafos, para se lançar na mídia internacional, sim, claro!!! Ela é modelo, é o sonho de sua vida ser comentada em todo o mundo. E para chamar a atenção do mundo para seu país, e sua seleção, que não é muito comentada por ter o melhor futebol ou as maiores chances de se tornar uma campeã.

OK. Não sou xiita, chata e mal-humorada. Ela quis, ela está se colocando dessa forma, ela está se mostrando, indo para assistir o jogo com essa roupa, colocando o celular entre os seios, e hoje, até a marca de um desodorante ela escreveu em um dos seios. Ela está aproveitando a popularidade pra se promover, e isso é no nosso mundo capitalista... aceitável.

Quero apenas refletir sobre os comentários dos apresentadores da globo. O foco saiu do futebol e foi para os seios avantajados da modelo. O futebol não está sendo suficientemente satisfatório?? Já estamos saturados de ouvir sobre impedimentos, falhas do juiz, regras, técnicos, faltas, jogadores machucados? Ou como a Seleção Canarinho saiu da disputa, não temos mais interesse nas transmissões... e, por isso, vamos voltar para nossa vida normal, como se nada estivesse acontecendo no mundo... Diante disso, a TV tem que fazer algo, não pode aceitar uma queda vertiginosa de audiência, e acaba apelando para qualquer coisa...

Achei exagerada a ênfase da transmissão da Globo nela, e achei de mal gosto os comentários que transcrevi aqui, e outros que ouvi.

Sim esse é um fato que deve ser comentado, e as fotos dela devem sim ser divulgadas. Apenas decidi escrever sobre um desconforto que senti ao ver que naquele jogo, o que interessava não era o futebol mais bonito ou o maior número de gols. E sim o show que ela daria mais tarde, diante de câmeras do mundo inteiro, diante de olhos atentos. Provavelmente, apenas os jogadores da seleção espanhola não iriam assistir ao espetáculo, que possivelmente seria assitido por mais telespectadores do que um jogo entre Sérvia e Gana. Mas que não acontecerá. Por mais que a mídia tente, no futebol, o que decide ainda é a diferença de gols, e não a qualidade das promessas, e a ênfase da mídia nelas...

Deixo aqui uma indicação. Comentários sobre uma matéria de mau-gosto, mais uma vez da Globo, sobre esse mesmo fato. Dessa vez, além de altamente machista, a matéria utiliza de inúmeras ironias e preconceitos, com o objetivo de dizer que a única coisa boa que tem no Paraguai são os seios da tão comentada Larissa Riquelme. Vale a pena ler!
http://somosandando.wordpress.com/2010/07/02/mau-jornalismo-da-globo-ja-e-destaque-internacional/

quarta-feira, 23 de junho de 2010

POR QUE O FEMINISMO????


Incomodo-me com as desigualdades desde que sou capaz de pensar no assunto. Convivo diariamente com o preconceito contra os deficientes (minha mãe é surda); em minha família, dizem que chego a ser chata contra o racismo; sempre tive uma quedinha pelo socialismo, apesar de não ter muita coragem de me assumir, por nunca ter me detido aprofundadamente em estudos sobre o assunto... Sempre considerei a religião, da forma que eu tive a oportunidade de conhecer, e quando levada ao extremo, uma forma de formatar e não considerar as diferenças individuais. Mas nenhum desses incômodos, nenhum desses pensamentos e discursos de igualdade me mobilizaram a ponto de me fazer agir efetivamente.

O feminismo fez isso comigo. O feminismo me fez sair da minha zona de conforto, me fez pesquisar, pensar, discutir, e decidir que mesmo com possíveis represálias, iria divulgar minha opinião e meus pensamentos. Além disso, venho procurando outras formas de atuação, contatando pessoas, pesquisadores, interessados na área. Pensando bem, o feminismo sempre fez isso comigo. Sempre discuti arduamente o assunto quando surgia em uma mesa de bar... Apenas não sabia, ainda, que isso era feminismo.
Por que o feminismo me mobilizou tanto? Um dia me fiz essa pergunta. E, acabei descobrindo a resposta. Foi o feminismo que fez isso comigo, pois é essa discriminação que sofro na pele. Apesar de morar com o preconceito contra deficientes, trabalhar com isso, conviver com o racismo (qualquer brasileiro convive com isso), o preconceito e discriminação que eu vivo é esse. É disso que sei falar “de carteirinha”, é isso que sofro “na pele”.

Não acho que só podemos falar do que somos. Pesquisas, leituras, conversas sérias nos munem de capacidade e nos legitimam a falar do outro, e da experiência do outro sim. Claro, que seguindo os preceitos de máxima neutralidade possível, e muita seriedade. Minha questão foi apenas: por que foi essa a desigualdade que me mobilizou e não qualquer outra...

Diante desses pensamentos, minha vida acabou mudando de rumo, e estou muito feliz com isso. É muito bom encontrar o que nos mobiliza, o sentimento de completude é sensacional. Apesar disso, são todos os tipos de desigualdade que me incomodam, e todos eles, em algum momento, serão discutidos aqui... Espero que gostem, divulguem, e comentem!!!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pânico na TV...




Hoje decidi escrever sobre uma coisa que confesso... Me faz mal.
Pânico na TV.
Comecei a procurar uns vídeos no youtube pra eu ter mais argumentos, e para colocar alguns vídeos aqui no post. Mas sinceramente?? Não foi uma boa ideia. Estou enjoada, com raiva, coração disparado, e com aquela sensação de falta de esperança na humanidade que eu DETESTO sentir. Sim, estou abrindo meu coração antes de falar sobre esse programa que passa na TV Brasileira. Tentarei ser o mais elegante possível, mas desculpem-me se não conseguir. Sinceramente é difícil, quando se trata desse assunto. Vale dizer que eu não assisto ao programa, vi algumas coisas na TV, por estar em algum lugar em que estivesse passando, e olhei algumas coisas aqui na internet. Não sou uma profunda conhecedora do programa e seus personagens, e o motivo ficará claro ao longo do post.
Desde muito nova, quando voltava da escola, meu pai, ou o motorista da van iam ouvindo aquele programa do rádio “Pânico”. Era um programa de entrevistas, e não me lembro de ter ficado incomodada com ele. Esse programa foi para a TV, com o nome “Pânico na TV”, e não costumava assisti-lo...
Minha revolta começou quando aquele quadro “Vô, Num vô” começou a ser exibido, e virar mania nacional. Sim, infelizmente, vivo num país em que esse tipo de coisa vira mania nacional. Dois caras saiam pelas praias do Brasil, abordavam mulheres e colavam adesivos nos quais estavam escritos “Vô, Num vô e Camarão” no corpo delas. Sendo que essas palavras demonstravam se eles “comeriam” ou não a mulher, ou se fariam como com camarão “tirar a cabeça e comer o resto”. Depois de colarem o adesivo, enterrar uma plaquinha com o que a mulher merecia (como que demarcando território), eles as pediam para que elas lhes “dessem a pata”, para dar uma voltinha, e o telespectador ter uma visão mais completa.
É chover no molhado dizer que estão objetivando a mulher??? Que essa atitude humilha a mulher, e não deveria acontecer? O pior é que eu não sei... A maioria das pessoas com as quais converso acha isso engraçado. Ri disso, e não percebe como eu percebo. Fazendo isso, eles colocam a mulher como um produto a ser consumido ou não, dependendo da vontade do homem. PERAÍ. Para o sexo acontecer, precisa-se de duas pessoas, e teoricamente, as duas teriam que ter se escolhido mutuamente, escolhido a forma, e o lugar em comum acordo. Não é isso que esse quadro demonstra. Na época, lembro que comecei a pensar como eu agiria se eu estivesse na praia e visse aquela equipe de TV. Aterrorizava-me ainda mais o fato de eles bradarem aos sete ventos, que a justiça brasileira não os impediria a nada. Pensava em saídas para não me encontrar com eles, e, sentia e sinto uma tristeza IMENSA quando vejo aquele quadro.
(Só um exemplo desse quadro, mas infelizmente, acho que se você vive no Brasil, já o viu pelo menos uma vez...
http://www.youtube.com/watch?v=XMHWeyejg84&feature=related)
O pior é que não parou por ai. Eles conseguiram mulheres fixas para humilhar e mostrar como coisas (alguns exemplos que me lembro, são as PANICATS, a Sabrina Satto, e a Samambaia – interessante que quando a gente quer dizer que uma pessoa é burra, fazemos alusão às plantas...). Infelizmente vi algumas cenas que muito me entristeceram. Vou colocar alguns links aqui, e fazer uma breve descrição do que aconteceu nesses quadros. (Assista apenas se você tiver estomago muito forte.)
- Teste de calcinha em guindaste: Nessa ocasião, eles decidiram “testar a qualidade da calcinha” usada por elas, levantando-as pela calcinha com um guindaste. É claro que o objetivo não era esse. O objetivo, era ver mulheres gostosas sendo levantadas pela calcinha por um guindaste, ate a calcinha arrebentar. (Imagino como deve doer você ter todo o peso do seu corpo levantado pela calcinha...) *Especialmente esse vídeo é muito pesado, foi muito difícil eu assisti-lo até o fim pra poder postar, e fiquei em duvida se o colocaria ou não aqui o link para ele.
http://www.youtube.com/watch?v=VIUmQpygFPg
- Escorpião picando a bunda da Sabrina: Ela se assentou em uma pedra, e deixou que um escorpião a picasse. Caiu no chão chorando, e a voz que narrava a cena ao fundo fazia piada daquela situação e da dor que ela sentia.
http://www.youtube.com/watch?v=lfuXjeLoqoU&feature=related
- Em uma ocasião que muito me espantou, elas foram colocadas em um lugar com cães famintos e carne crua costurada nos biquínis. Foram “jogadas aos cães”, em uma referencia àquelas situações nas quais os gladiadores eram jogados aos leões para divertir aos cidadãos da Roma Antiga. Esse vídeo mostra só a preparação do “espetáculo”. Se tiverem interesse em ver o final, basta procurar no youtube.
http://www.youtube.com/watch?v=XETLo_zrheM
Não poucas vezes as vi chorando, dizendo que não queriam fazer, além de uma referência à unidade de atendimento móvel para a sua segurança com conseguinte focalização da câmera em um caminhão de brinquedo... Quando elas começam a demonstrar que não querem fazer, o Bola (um dos integrantes da equipe, que é constantemente zoado pelos outros), grita com elas e as xinga muito, ameaçando que vai colocar outra no lugar delas, e dizendo que elas aceitaram fazer o quadro antes, e que por isso não poderiam deixar de fazê-lo, agora que já estavam sendo filmadas. Em um dos vídeos, quando elas estão demonstrando claramente estar sentindo dor, ele fica jogando balão de água na cara delas, e mandando-as parar de gritar.
Bem, o que eu vejo nesses vídeos, ou na descrição deles são cenas de violência explicita contra a mulher, e isso sendo tratado como ‘comédia’. Penso que esse tipo de programação na TV aberta faz um desfavor ao país, colocando de forma clara a suposta inferioridade da mulher diante do homem, ou diante de qualquer outra coisa. Pois, pra mim é difícil conceber que haja algum respeito qualquer que seja pela mulher quando coisas assim são feitas, e televisionadas.
Um argumento muito utilizado é o de que elas têm a opção de fazer, ou deixarem que façam o que bem entenderem com o corpo delas. Sinceramente??? Eu não acho que é por ai não. Isso está sendo vinculado na mídia, as pessoas se espelham nesse tipo de atitude, e reproduzem em seus micro ambientes. Nós, mesmo quando não queremos, carregamos algumas características que representam um grupo de pessoas, e não temos como nos livrar disso. Elas são mulheres, e mesmo que elas não queiram, e que eu não queira, elas me representam lá, assim como representam todas as mulheres. Dizer que as pessoas adultas que assistem têm discernimento suficiente para não reproduzir isso também, em minha opinião, não é um argumento forte. Conheço muito pouco de Foucalt, mas tive uma aula sobre Dispositivos de Poder, e pelo que eu entendi, ele argumenta exatamente isso, que o poder se baseia em discursos sociais que são vinculados, que geram uma forma de ver o mundo. Qual é o discurso que passa nesse programa, qual é a forma de ver o mundo que ele nos propõe? Que a mulher está aí para ser violentada, e para que isso se torne uma forma de Piada, que isso seja engraçado, e dê ibope.
Penso que o programa ainda cria outras formas de preconceitos e estereótipos. Reparem que a personagem que pratica ativamente a violência contra as mulheres na maioria das vezes, como podemos ver nos exemplos que separei pra esse post, é o Bola. Dizer que eles também “zoam” um homem em nada ajuda, porque, será que é MESMO coincidência o fato de o zoado ser o “Gordinho”?? (No vídeo das calcinhas, elas fazem uma ‘revanche’, e ele tem que fazer o mesmo. Pra mim, isso não melhora em nada. A violência contra a mulher não se anula quando se pratica violência contra o homem logo em seguida Mas ainda assim, ele pode sentir dor assentado, sem ninguém obrigá-lo a se levantar...as mulheres que praticaram violência contra ele, respeitaram a sua dor. Coisa que ele foi incapaz de fazer). Além do estereótipo que eles criam com o “Cristian Pior”. A personagem que teoricamente representa o movimento LGBT, (continuando a ideia de que representamos uma classe mesmo se não quisermos), já tem PIOR no nome. Ah, ainda tem uma coisa que me chama atenção. A sátira que eles fazem da Marília Gabriela, que é reconhecida como uma mulher inteligente, que faz entrevistas ótimas com qualquer um. (Não estou falando de opiniões, mas de como ela é conhecida no “meio artístico”). Será que eles a satirizam, e a colocam num lugar ridículo à toa???
Achar que tudo isso são grandes coincidências, pra mim, é uma grande ingenuidade. Vamos continuar sendo ingênuos? E rindo de todas essas violências e preconceitos...??? Ou vamos tentar ver além do que esta sendo dito (aliás, nesse caso, nem tentam esconder nada não...), pensar sobre isso? Pensar em como essas informações chegam para todas as pessoas que assistem... E as consequências disso?!?

sábado, 12 de junho de 2010

Dia dos Namorados...



Hoje é o esperado por alguns, e indiferente para outros: DIA DOS NAMORADOS...
Essa semana, voltava pra casa, quando vi essa propaganda do Shopping Del Rey na traseira de um ônibus no centro de Belo Hortizonte...
Inevitavelmente começei a pensar naquela foto.
Um casal com a camisa do Brasil (muito bem uniformizado para assistir a um jogo do Brasil na Copa do Mundo...) Ele com a expressão de estar comemorando algo. E ela, abraçando o seu pescoço e lhe dando um beijo no rosto.
Foi uma ótima ideia unir futebol e dia dos namorados, até porque é mesmo o que aconteceu esse ano.
O que me incomodou, foi a posição em que a mulher aparece nessa propaganda. Dá a entender que essa união é boa apenas para o homem, até porque, só ele gosta de futebol mesmo, não é?!? Nem o rosto todo da modelo conseguimos ver direito.
Que bom PARA ELE que futebol e paixão se uniram esse ano...
Essa não é uma crítica ao Shopping em questão, é um ótimo shopping, e o frequento sempre que possivel. A questão é que essa propaganda, como muitas outras demonstram o lugar secundário que a mulher ocupa em nossa sociedade. Essa propaganda apenas retrata algo que está aí. E, é claro... repete e consolida essa ideia, mesmo sem as pessoas perceberem conscientemente. As discussões sobre propagandas, cerveja e futebol é longa e antiga... Historicamente colocam a mulher como mais um objeto de consumo do homem...
Particularmente, acho que essa foto seria muito mais bonita se colocasse um casal comemorando juntos, sem nenhuma referência à hierarquização entre um e outro. Que os dois estivessem na mesma posição de namorados, amantes e torcedores...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Temos que aprender a conviver com o vazio inerente à nossa condição. Sempre falta algo e sempre faltará.



Há cerca de um ano escrevi um texto. Estava ansiosa (como na maioria dos meus dias) com as obrigações que sinto que TENHO que cumprir cotidianamente... e que é claro! Nunca consigo cumprir todas... Percebi que estava recorrente o fato de informações que demonstravam um exagero, chegar até meus ouvidos ou meus pensamentos... Hoje, me lembrei desse texto e resolvi postar aqui. E, é engraçado que percebi que as experiências e pensamentos que coloquei no texto TODOS foram tirados ou da minha vida ou de conversas com MULHERES (amigas, conhecidas, familiares...)Não estou dizendo que a sociedade não cobra do homem...sei que eles tem que cumprir com o papel do MACHÃO o que não é necessariamente fácil, senão são "mulherzinhas"... (interessante que o xingamento ao homem sempre traz referência à mulher ou ao "seu papel" de passiva, fresca ou enfim... MULHER. Bem... aqui trago o pedido de socorro de uma mulher... que hoje tenta dividir essa angústia.
(Obs aos amigos, conhecidos, familiares: é possível que você se reconheça num desses exemplos ou vivências... me dei a liberdade de expor aqui nossas experiências juntos... Se preferir que eu tire o argumento, é só falar... E, se se reconhecer e quiser dizer que se reconheceu... ficarei muito feliz!!!Obrigada por estarem na minha vida, e me ajudarem a viver de uma forma mais leve...
Obs à todos os leitores: peço desculpas pelos longos posts. Tento me policiar quanto à isso... mas confesso que acho um pouco difícil... Espero melhorar nisso com o tempo!!! E espero que tenham paciência para esperar essa melhora!!)


Temos que aprender a conviver com o vazio inerente à nossa condição. Sempre falta algo e sempre faltará.

Quanto mais livros lemos, mais livros queremos ler...
Quanto mais dinheiro ganhamos, mais dinheiro queremos ganhar....
Quanto mais línguas aprendemos, mais línguas queremos aprender...
Quanto mais viagens fazemos, mais viagens queremos fazer...
Quanto mais teorias conhecemos, mais teorias queremos conhecer...
Quanto mais produzimos, mais queremos produzir...
Quanto mais consumimos, mais queremos consumir...

Nada é o suficiente. 3 meses de férias??? É pouco. 24 horas por dia???? É muito pouco. Eu realmente queria um dia com 48 horas. O que são 5 dias pra folia do carnaval? 2 dias de fim de semana??? É sempre pouco. 5 dias úteis na semana?? Apesar de extremamente cheios e cansativos, nunca são suficientes. Como fazer TUDO em tão pouco tempo? Temos que estar sempre lindas, penteadas, depiladas, magras, maquiadas, atualizadas com as últimas notícias e fofocas do mundo, com as unhas feitas, cabelo hidratado, todos os fichamentos prontos, e tirar total em todas as provas. Além de passar o cartão sem um minuto de atraso no trabalho, e fazer uma atividade física, que é fundamental, não é mesmo? No mínimo 3 vezes por semana, só 50 minutos de exercício. Nossa vida amorosa? Tem que ser igual ou melhor do que a das comédias românticas. Temos que saber falar de todos os assuntos. De moda à crise econômica. Temos que ter um ponto de vista formado como se fossemos PhD em todos os assuntos. Temos que ter nossa vida religiosa/espiritual bem resolvida, e tudo sempre dentro das normas da ABNT, até porque “a academia funciona assim” e ou você se normaliza ou jamais será ouvida. E é inaceitável você nunca ter visto AQUELE clássico do cinema. Queremos ver todos os filmes que foram indicados para o Oscar, e com tantos esmaltes na “nécessaire”, é preciso pintar cada unha de uma cor, senão nunca todos eles serão usados. Saber dançar apenas um estilo musical? É realmente pouco. Temos que saber dançar bolero, salsa, forró, samba, tango, valsa, zouk, chá-chá-chá, rock e merengue. Temos que gostar de todos os estilos musicais, afinal de contas... cada música para uma situação. Beatles pra um fondue com os amigos mais íntimos, e funk no churrasco que só tem cerveja. E cantamos todas as músicas com a mesma desenvoltura...não?? COMO NÃO???? Você não ouviu a música sensação do carnaval?? Você não beijou no recorde de beijos simultâneos no Mineirão? Não foi ao show da Madonna no Brasil?? Mas como? Ela não vai ter mais 15 anos de carreira pra voltar aqui! Você TINHA QUE TER IDO! Tem 4 meses que a gente combina de sair, e nada? Mas também, né? Na correria habitual do dia-a-dia... sei que você me entende, porque deve viver assim também! Temos que ir em todas as baladas. Chegar antes das 4 da manhã em casa é sinal de uma noite mal aproveitada. Eu sei que você tem aula amanhã às 7 da manhã, mas é só um dia, né?... Vale a pena o “sacrifício”. Até porque, você tem 20 anos, e “tá” na idade de agüentar esse ritmo frenético que a sociedade impõe em nossas vidas... e a gente aceita, é verdade... Mas não temos que passar no vestibular E no concurso público? E enquanto isso, sermos jovens, cristãs e boas filhas? Temos mesmo que aceitar o ritmo acelerado do mundo globalizado. Se não, ficamos pra trás, e não realizamos nenhum de nossos sonhos, nem mesmo o de poder assentar no bar pra tomar uma cerveja no domingo de manhã. (...) Eu, sou da geração em que nada é suficiente. ABSOLUTAMENTE NADA. Orgasmos múltiplos, toda menina de 15 já teve... Beijar 45 numa noite, qualquer exemplar do sexo masculino já o fez. O tamanho dos seios nunca é suficiente, e o louro do cabelo sempre pode ser um pouco mais claro. Escova progressiva?? É mais antiquada do que o celular tijolão do vovô. Se eu fosse seguir os conselhos da minha cabeleireira, já tinha feito escova inteligente, de chocolate, de morango, mel, permanente, americana, cristalizada e laser. 30 milhões acumulados na mega sena? Se não souber utilizar, somem como se fossem 10 reais. E os 100 canais da TV a cabo?? É impressionante, mas não passa NADA de interessante na TV! Você fala 3 línguas estrangeiras? Que bom! Seu concorrente fala 5, e já morou em 3 países diferentes. Claro, fez um doutorado em cada país. Se eu te mostrasse a lista de livros que quero ler um dia... nem se eu fosse uma dama do século XVIII que é proibida de sair de casa eu conseguiria terminar de ler todos aqueles livros...mas quero ter uma biblioteca quando eu tiver minha casa... “quando eu tiver minha casa” ... ... ... mas e se eu 'fracassar' e nunca conseguir comprar uma casa? Não, não posso nem pensar nisso, até porque o pai da minha amiga ganhou o primeiro sapato quando ele tinha 14 anos, e hoje ele banca uma família inteira. E a luta de meu pai e minha mãe para me dar condições materiais e emocionais para eu dar conta dessa vida?... É, realmente não posso nem cogitar a possibilidade de fracassar. Tenho sorte por ter nascido numa família com uma situação financeira razoável e que me deu muito amor, carinho e educação. Não posso desapontá-los. Sempre fui boa filha... uma criança muito tranquila... nunca dei trabalho à minha mãe. Mas não quero ter filhos. NÃO? NÃO POSSO NÃO QUERER? E meu instinto maternal??? Mas a antropologia científica já comprovou que a única coisa que há em todas as culturas é a proibição do incesto. Falando nisso... você viu o Datena ontem? Ele não cansa de falar sobre a CPI contra a Pedofilia, também... é um absurdo isso. Mas será que é doença? Ou loucura??... posso consultar o DSM-IV pra descobrir, ou posso olhar na Veja da última semana. A veja é parcial, né? Melhor a Folha... mas não é que os pais daquela minha amiga cancelaram a assinatura da Folha por ela ser parcial demais (?) é possível ser imparcial????. No primeiro período da faculdade falam para os alunos já irem pensando no tema do seu TCC (Trabalho de conclusão de curso? Ou Técnica de contar caduco?) até porque 4 anos passam rápido demais, e num piscar de olhos, todos estão assentados lá na frente com um chapéu nas mãos. Peraí.Como assim você AINDA não leu o novo romance do célebre Chico Buarque?? E a Playboy do último mês? Viu como a ex-BBB fez fotos ousadas?? É, a nova propaganda da coca-cola realmente quebra todos os paradigmas da publicidade, apesar da crise eles estão investindo pesado na mídia da internet. Diante de tantos internautas, é preciso vender aqui também! O Brasil é o segundo no ranking dos paises que passam mais tempo no orkut. Onde será que essas pessoas arrumam tempo pra ficar olhando as atualizações alheias diante de tantas obrigações sociais? É... eu já tava querendo cancelar meu orkut há algumas semanas. Apesar de uma boa forma de manter contato com os amigos distantes, perco muito do meu preciosíssimo tempo olhando fotos e respondendo scraps, mas se eu sumir da internet, não me chamarão mais pras festas... é... a saída é eu continuar dando um jeito de fazer TUDO no mísero tempo que tenho disponível. Ter um objetivo maior na vida é a chave do sucesso... se um dia eu chegar lá... prometo que volto pra te contar o caminho!

Temos que aprender a conviver com o vazio inerente à nossa condição. Sempre falta algo e sempre faltará. Mas será que já não estamos exagerando??...


quarta-feira, 9 de junho de 2010

De onde tirei "SOBRE AS MULHERES DE ATENAS"...


Como disse no post inaugural do blog, estou muito mobilizada com toda essa discussão sobre feminismo e desigualdades em nosso cotidiano.
Quando decidi fazer o blog, me deparei com a dúvida: QUAL NOME COLOCAREI??
Conversei com muitos amigos, e as idéias começaram a surgir... Uma amiga comentou sobre o clássico “Amélia é que era mulher de verdade”, mas achei que ficaria uma ironia muito grande já no título... Depois, comecei a pensar em outras músicas. Me lembrei da “Geni e o Zepelim” do Chico Buarque, mas Chico é sempre profundo demais, e essa música dá espaço pra muitas interpretações.
Foi quando uma amiga me enviou a música, também do Chico, “Mulheres de Atenas”. Nesse momento, tive certeza que o nome do blog iria se referir às MULHERES DE ATENAS.
Como coloquei no cabeçalho, MIREM-SE não significa, nesse caso, espelhem-se. CLARO!... E sim ATENTEM-SE. Prestem atenção nas mulheres de Atenas, que "vivem para os seus maridos/ Quando fustigadas não choram,Se ajoelham, pedem, imploram/ Elas não tem gosto ou vontade, Nem defeito, nem qualidade, Têm medo apenas".
Acredito na importância de estudarmos a Mitologia e Sociedade Gregas, pois nossa sociedade é muito baseada nessas crenças, e nessa forma de viver. E, se não questionamos, vivemos como as MULHERES DE ATENAS... E infelizmente é assim que muitas mulheres vivem atualmente... Secando por seus maridos, ou outros homens quaisquer. Sem ao menos perceber...


Mulheres de Atenas
Chico Buarque
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos
Poder e força de Atenas
Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar, violentos
Carícias plenas, obcenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas
Elas não tem gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
As suas novenas
Serenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

terça-feira, 8 de junho de 2010

Machismo de 20 ou 20 e poucos anos...


Há algum tempo entro em discussões ferrenhas com amigos e conhecidos, com o intuito de mostrar como essa geração que hoje tem 20 ou 20 e poucos anos é extremamente machista, sem perceber. Um argumento que sempre usei é o de que falar que nossos pais ou tios são machistas é normal, e aceito. Mas, nós, jovens, não conseguimos assumir esse preconceito de gênero. Me incluo nesses jovens, pois, apesar de prestar muita atenção nos estereótipos e nos preconceitos, às vezes (mais vezes do que gostaria), me pego fazendo um comentário preconceituoso. Não gosto, e tento me policiar para não fazê-los, ou corrigi-los, se e quando possível. Mas o preconceito está enrraigado em nossa cultura. Somos educados assim, nossa língua traduz esse preconceito, e mudar essa lógica é difícil, demorado e doloroso. MAS, NECESSÁRIO!
Um dia recebi essa lista por e-mail...
Cão--->melhor amigo do homem
Cadela--->puta

Vagabundo --->homem que não trabalha
Vagabunda --->puta

Touro --->homem forte
Vaca --->puta

Pistoleiro --->homem que mata pessoas
Pistoleira --->puta

Aventureiro --->viajante,desbravador
Aventureira --->puta

Garoto de rua --->menino pobre, que vive na rua
Garota de rua --->puta

Homem da vida--->pessoa letrada pela sabedoria adquirida ao longo da vida
Mulher da vida ---->puta

O galinha ---->o “bonzão“, que traça todas
A galinha ---->puta

Tiozinho --->irmão mais novo do pai
Tiazinha --->puta

Feiticeiro --->conhecedor de alquimias
Feiticeira --->puta

Maluf, ACM, Jader---->Políticos
A mãe deles --------->putas

E para finalizar...
Puto ---->nervoso, irritado, bravo
Puta ---->puta

É cruel pensar em todas as situações nas quais de fato fazemos referencias às mulheres e homens dessa forma... E aí... Somos ou não somos machistas????... É possível dizer que homens e mulheres são tratados da mesma maneira?!... Acho que INFELIZMENTE ainda não podemos dizer isso.

Como tudo começou...

Há 12 dias, tive uma aula de Psicologia Social sobre "Feminismo". A professora deu um show sobre o assunto. Eu estava na primeira carteira, anotando cada uma de suas palavras. Na aula anterior tínhamos assistido a uma "palestra" sobre Identidade de Gênero, e o foco também foi no Feminismo. Nesse dia, um vídeo foi passado, e ao assisti-lo ouvi a seguinte definição: “Ser feminista é se levantar e lutar contra a opressão.” Em uma semana, tinha lido todo o livro “O contrato sexual” da Carole Pateman, e nesse momento já me sentia profundamente engajada no assunto.
Ainda imersa nesses pensamentos fui, há 5 dias, assistir ao filme “Sex and the City 2” no cinema com uma amiga que é viciada na série há anos. Fiquei estarrecida com os conteúdos que considerei feministas no filme. Minha expectativa era muito baixa, e sai tão eufórica com tudo o que tinha sido discutido, que na mesma noite peguei todas as temporadas da série emprestadas, e imediatamente comecei a assisti-las com esse olhar, com os “óculos das relações de gênero”, como tinha aconselhado a professora semanas atrás. (Farei um post apenas sobre esse assunto em breve)
Ao mesmo tempo comecei a frequentar blogs feministas, inicialmente em busca de relações entre o filme e o feminismo. E depois lendo tudo que encontrava sobre o assunto.
Foi quando percebi que deveria começar a escrever sobre todos esses pensamentos que me inquietam e motivam tantas leituras e discussões. A ideia de fazer um blog me pareceu um meio de sistematizar meus pensamentos, expor minhas opiniões, debatê-las, registrá-las...
O “Sobre as Mulheres de Atenas” pretende ser um blog que discute e, com isso, tenta tirar da invisibilidade as relações desiguais de Gênero que permanecem na sociedade ocidental atual. O intuito é debater assuntos que também são discutidos pelo Feminismo, de modo a desvelar o que está a tanto tempo velado.
Com toda essa reflexão, percebi que minha inquietação não é apenas com a desigualdade de oportunidades entre os gêneros, e sim com a desigualdade arbitrariamente imposta diante de qualquer diferença: raças diferentes, distintas classes sociais, orientações sexuais, diferenças nos corpos (as chamadas deficiências ou as doenças), ou qualquer desigualdade de oportunidades que tentam se justificar, mas que apenas reproduzem um discurso de dominação de “um-referência” sob o “outro-diferente”.
Esses outros temas invariavelmente vão aparecer nas discussões aqui feitas, pois estão no cotidiano de todos nós, e eu, por inúmeros motivos, fui me tornando sensível a essas desigualdades de oportunidades perversas que mantém uma lógica muito confortável para quem é a referência: homens, brancos, social e financeiramente privilegiados, heterossexuais, com corpos “perfeitos” (tanto estética quanto estruturalmente) e saúde preservada. Não quero culpar ninguém, não falo por nenhum movimento específico. Quero APENAS debater vários assuntos. Pensar sobre questões que não nos ensinaram a pensar. Questionar “regras sociais” e consensos que são aceitos e reproduzidos sem sequer termos consciência disso. Somos seres pensantes, e devemos pensar nos nossos atos. Uma amiga diz não acreditar na justiça. Eu acredito. Eu acredito ser possível que tenhamos oportunidades iguais para as pessoas. Fácil, eu sei que não é. Mas é possível. Essa é uma utopia que sigo e espero não ser a única...